quinta-feira, 27 de março de 2008

Estendi a mão à imaginação e ela fugiu! parte dois

Acabei a limonada a assistir ao fantástico evento que passava na televisão. Sinto um ardor no estômago e uma incapacidade enorme em resolver pequenos problemas. Pergunto ao empregado quanto tempo demora a roupa a secar em tão estranhas condições e ele respondeu-me que relógio e meio normalmente são suficientes. Paguei e ao tentar sair deparei-me com duas portas sem qualquer sinalização. Abordei de novo o empregado e perguntei-lhe qual delas era a de saída. Ele também não sabia e afirmou prontamente que apenas usava a das traseiras. Sair pelas traseiras agora implicava fazer trezentos metros entre animais selvagens e insectos de oitocentos gramas, para finalmente chegar aos últimos vinte e oito metros quase paradisíacos, onde se perde a gravidade e o corpo apresenta movimentos inequívocos de invertebrados, podendo demorar vários relógios até chegar próximo da antena de televisão de casa e a agarrar para depois arrastar-me lá para dentro. Para confirmar a sua inteligência perguntei-lhe como se chamava e de que cor era o fiambre da pá. Ele respondeu-me que tinha o mesmo nome que eu e retirou a máscara que disfarçava o meu rosto.
Era eu e não me lembro da cor do fiambre! Dou uma volta muito rápida pelas mesas para recolher os copos vazios pois está um fedor que não se pode. Restam dois clientes sem máscara que sorriem e comunicam emitindo sons entalados contra as almofadas dos assentos. Parece uma conversa bastante interessante e cativante pois revelam-se incansáveis. Pediram dois copos de sangria com três pedras de gelo. Sentei-me e respondi entalando dois sons no assento para confirmar que tinha compreendido o pedido e fui preparar três copos de sangria. Ouço o cliente sentado ao balcão pedir uma limonada mas tenho de ir preparar as sangrias porque estou cheio de sede. Finjo que não ouço e disfarço-o rebolando-me no chão duas ou três vezes até que finjo que estou morto. Fui para a cozinha, bem junto ao chão para não ser detectado pelos radares inimigos, e preparei um jarro de cinco litros de sangria.
Enquanto esperava pela limonada, que já começava a duvidar ter pedido, assistia ainda ao magnífico evento em directo na televisão. Não tinha a certeza do que se tratava porque não tinha som e, incrivelmente, um dos personagens parecia apenas movimentar-se quando eu me movimentava.

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