domingo, 6 de dezembro de 2009

Nós

Os meus olhos desejaram os teus,
Porque arqueavam a íris, sem chuva nem sol nem céus…
As minhas mãos acariciaram as tuas,
Porque tranquilizavam a cabeça de quem contara mil luas…
Os meus ouvidos e a tua voz,
Deram-me as notas soltas que apertaste com mais de trezentos nós…

sábado, 17 de outubro de 2009

Manifeustações

Surpreendem-me as manifestações do meu ser.

Sei que são minhas porque se revelam intrínsecas a algo exterior.

Chego sempre sem saber para onde ia,

E as batatas por cavar fazem-me salivar.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Sobem leves... breves...

Encontram-se frequentemente...

Não acreditam em destinos e não têm medo de se perder: só não se perde quem não ousa sair do seu corriqueiro trilho.

Algo os eleva e os une. Uma força intangível revela-se, perceptível.

O vapor abandona o café na caneca e enrosca-se nas ondas de fumo do cigarro.

Sobem leves... breves...

E juntos, desaparecem…

segunda-feira, 6 de abril de 2009

XXXV

Na paragem, as pessoas e os seus cansaços empenham-se na contagem impaciente. O painel digital anuncia o último minuto de espera pelo descarrilado há pelo menos vinte.

O pôr-do-sol chegou primeiro... Há algo nos descarrilados que distorce o tempo e o estende infinitamente.

O espaço é inevitavelmente afectado!

A lotação teórica permitida é praticamente espezinhada, prensada com a soma de ligeiros empurrões cínicos com origem na frente, causando sérias repercussões nas traseiras.

Paguei o bilhete, guardei-o no bolso e deixei-me levar pela corrente. Há calor, falta de ar e uma mistura espontânea de aromas humanos fora da validade percorre-me as narinas ao som dos auriculares da passageira que se encontra nas minhas costas.

Aquilo finalmente parou! Estiquei o braço direito, o pé esquerdo levantou cinco centímetros e agarrei-me ao varão gorduroso vertical metalizado. Os cabelos cinzentos e encaracolados de uma passageira anciã faziam-me cócegas no antebraço e a fome começava a apertar.

Dlim-dlim-dlim-dlim!

A luz vermelha intermitente do STOP despoletou movimentações provenientes dos mais diversos pontos do descarrilado. Parou, as portas abriram-se e um grupo de pessoas entrou pela porta de saída, evitando toda a fila para entrar na devida, e percorreram todo o corredor contra a corrente para passar o cartão na máquina.

Bip! Bip! Bip! Bip!

Baixei o pé, abandonei o descarrilado, enchi os pulmões de ar e fiz o resto do caminho a pé...