quarta-feira, 16 de abril de 2008

Ahhhh...

Estava a ficar tonto. O jantar ainda não chegou e já devorei uma enorme quantidade de pão, azeitonas, patê de sardinha e manteiga com alho. Tudo era quase o que parecia e já não pensava no que dizia. Simplesmente, falava e assistia! Não sei quantos bebi pois o copo está sempre cheio. Há alguém que dá especial atenção à quantidade de tinto que tinge o meu copo. Precisava de me levantar e ir ao WC, mas estava entalado contra um canto e três pessoas teriam de se levantar para poder sair. Gentilmente, levantaram-se todos, incluindo os do outro lado por simpatia. Ziguezagueei até à porta e estava ocupado. Resolvi não me sentar de novo pois três pessoas teriam de se levantar para eu entrar para o meu canto, de se voltarem a sentar e levantarem-se novamente para poder voltar ao WC. Resolvi encostar-me ao bar e pedi um martini tinto. Concederam-mo e feliz, bebi-o. A descarga era iminente. O tilintar das pedras de gelo no copo não estava a ajudar e duas torneiras estavam abertas. Uma renovava a água de um alguidar com tremoços e a outra enchia o balde da esfregona azul. O WC das Senhoras é do outro lado e nunca passaria despercebido se tentasse libertar a pressão por lá. Apesar de as pessoas estarem a jantar e a falar, não ouvia as vozes que se atropelavam ou os talheres quando se encostam aos pratos. Ouvia sim, o som da água a sair nas torneiras, a descer confiante pelos ralos… Ahhh…

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Quanto maior a minha sombra, melhor!

Há vida em mim!
Embora às vezes a subestime, ela é bem real e ilude-me.
Diz ser apenas mais uma… que simplesmente é igual a tantas outras…
Está a tentar que me encoste… que me sente à sombra…
Mas à sombra não fico! Se tiver de torrar, que torre!
Porque sem me queimar, como poderia conhecer o calor?
Sem dor, como reconheceria o amor?
Não há dúvida em mim.
Quanto maior a minha sombra, melhor!

terça-feira, 8 de abril de 2008

Bip! Bip! Bip! Bip!

O comboio transbordava. Cá fora as pessoas que esperavam para entrar não sentiam necessidade de deixar as que estão dentro sair. Cada um empurra o seu homólogo da frente. Reparei que, se os da frente não conseguem ou são simplesmente civilizados, os de trás carinhosamente conspiram e os empurram.
Esperei que todos entrassem e restaram vinte milímetros quadrados onde me pude encaixar.
As grelhas da ventilação trepidam de tanto soprar e já me sinto sem ar.
Bip! Bip! Bip! Bip!
Apetecia-me mesmo uma chamuça!
Encosto o cartão à superfície azul saliente e abre-se o torniquete.