quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Estendi a mão à imaginação e ela fugiu! parte três

Pela porta da cozinha, através dos espaços vazios verticais móveis entre as fitas anti-insectos, conseguia ver o empregado às riscas com a cabeça enfiada dentro de um alguidar. Acendi um cigarro com a parte mais clara do topo da chama e peidei-me. No fantástico evento que passa na televisão em directo, alguém também acendeu um e curvou-se ligeiramente para a esquerda. Farto de limonadas, espero pelo meu copo com sangria que não vem... Continuo sem saber como sair daqui. Tenho de me lembrar de não voltar a este bar fedorento!
Ao passar pela máquina de café reparei que a roupa já estava seca. Estou aqui há mais de relógio e meio! Chamei-o e não respondeu. Talvez não me conseguisse ouvir... Chamei-o mais alto... Nada! Atravessei as fitas, aproximei-me, puxei-o lá de dentro pelo colarinho e, ofegante, disse-me que não queria sair já e barafustou por tê-lo puxado. Meti a cabeça dentro do alguidar, ainda a agarrar-lhe o colarinho, submergi-a e abri os olhos. Os cubos de laranja e os de maçã flutuantes formam um universo do qual não queria sair, mas não podia ficar assim para sempre… Larguei o colarinho, trepei lá para dentro, submergi-me na posição fetal e acordei quando me puxaram pelo meu… Já não havia sangria no alguidar e bocados de fruta dificultavam-me a respiração. Saltei para o chão, sacudi a fruta e vomitei assim que inspirei pela primeira vez o odor intenso a tinto. Dentre os cubos de maçã rosados e todo o bolo alimentar por digerir, a imaginação saltou e chapinhou para trás da máquina de café. A porta das traseiras abria-se lentamente atraindo a atenção de todos pela chiadeira característica.
Era eu! As poucas partes do corpo que não me doíam estavam completas com babas que, pelo tamanho e cor, me faziam lembrar o fiambre da pá. No espectacular evento que passava na televisão, duas pessoas pareciam trabalhar em equipa para encher de sangria a arca dos gelados desligada. Outra, permanece sentada à mesa, sorrindo, à espera do copo com sangria que lhe aparece no horizonte num dia de calor intenso e a outra, parece ter desmaiado ao pé da porta...